sexta-feira, 29 de julho de 2011

Poeta, Vem Cantar






Oh vem poeta vem cantar a vida,
Vem ver nascer o sol em cada dia,
Vem, enche tua alma de alegria
Com açucenas mil, sempre florida

E quando no afã da tua dor
A noite sem luar surge à porfia,
Já canta o rouxinol, a cotovia
Trinados para ti, canções de amor

Poemas que se esventram das entranhas,
Qual brisa que sussurra das montanhas
Soprando p’las savanas tão serenas

E fico a ouvir a doce melodia
Que inspira e nos dá alma noite e dia
E enche a nossa vida de poemas



José Sepúlveda




quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vida

Foto de Kiro Menezes




A vida
é larva atrevida
perdida, incontida
Tão cheia de graça

Momento a momento
Regista no tempo
O tempo que passa

Como a bola de sabão
rebenta na mão
Para nossa desgraça

Blammm!!!


José Sepúlveda

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ternura

Foto de Kiro Menezes

De manhã, ao despertar,
De quando em quando,
Abro os olhos com desmando
Para ver teus lindos olhos
Me olhando, me olhando…

E se cedo, muito cedo,
Qualquer sonho me desperta,
Eu corro com afã,
De mente aberta,
Buscando o teu sorriso,
O teu calor,
Que me seduz,
Buscando com fervor
A tua luz,
Que só traduz amor.

O teu sorriso aberto,
Semi-encoberto
Entre os lençóis,
Vai, desperto, penetrando
Lento, lentamente,
No meu pensamento,
Na minha mente.

E quando dou por mim,
Caio perdido,
Entrelaçado
Na ternura
Dos teus braços…
Que loucura, amor!

E o meu corpo, a mente, a voz,
Já não estão sós,
Que alegria,
Que afinal
Eu e tu somos nós,
Ana Maria!

José Sepúlveda 
(Intimidades)



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sexta-feira, 22 de julho de 2011

ISABEL







Olhando nos teus olhos nesse dia
Em que naquele bar te conheci,
Eu vi mananciais de poesia
E entre os teus poemas me perdi.

Quanta saudade, quanta nostalgia
E quanta solidão neles senti,
Quanta tristeza vã, quanta apatia
E quanto sofrimento eu vi ali.

Depois, juntamos todos nossas mãos.
E com um grande empenho, gestos sãos,
Quisemos-te mostrar nossa alegria

E vimos-te prestar esta homenagem
Querendo realçar tua coragem
De abrir teu coração em poesia.

José Sepúlveda


quinta-feira, 21 de julho de 2011

De manhã



Despertei de manhãzinha
Ao cantar dum passarinho
E foi p’ra ti, rosa minha,
Foto de Kiro Menezes
Todo o amor e carinho

Ao ver os prados, os montes,
Essas belezas sem fim,
Meus olhos são duas fontes
Porque estás longe de mim

Fecho os olhos, de repente,
Tento no céu encontrar
Esse sorriso silente
Que cintila em teu olhar

Vem para mim, vem depressa
E rejeita o despudor
De tudo o que se atravessa
Afrontando o nosso amor!


José Sepúlveda



Anseio

Foto de Kiro Menezes


Deixa-me olhar o teu sorriso lindo
E penetrar bem fundo em tua mente
Sentir seu doce brilho se esvaindo
Na luz do meu olhar, suavemente

Deixa teus lábios doces aturdindo
Meus pensamentos loucos de indulgente,
Galgar estrada fora, descobrindo
Caminhos que nos levam para a frente

Deixa-me amar –te, amor, que sinto agora
Que este sentimento que devora
É força que renova em nós vigor

Não deixes dissecar o sonho infindo
Que é neste sonhos a dois que, repartindo,
Nós vamos construindo o nosso amor!


José Sepúlveda


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Natureza

Foto de Kiro Menezes










A minha amiga surda, a natureza,
Falou-me esta manhã em poesia,
Falou-me de alegria, de tristeza,
Falou-me de ternura e simpatia.

No azul, no verde-rubro, singeleza,
Nos campos e nas flores, no céu, dizia:
- Quem foi o Pai de tão rara beleza?
- Foi Deus-Amor, Deus-Paz, Deus-Alegria!

Virado ao céu, contemplo o azul sem fim
Com misticismo tal que sinto em mim
Como o sair do vale mais profundo.

E sonho, e quero ver o mar brilhante
Que vive no meu ser em cada instante,
Levando-me consigo a todo o mundo.



José Sepúlveda


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Minha Menina

Menina
Dos meus encantos
Ouve os meus prantos
Vamos cantar

Atenta
No mar sereno,
Ouve o aceno
Do nosso mar

Menina
Dos meus desejos
Toma meus beijos
P’ra te alegrar

Não lances
A vida fora
Porque ela chora
Ao ver-te chorar


José Sepúlveda

quarta-feira, 13 de julho de 2011

CARTA A UM AMIGO


Estou aqui, Senhor, indiferente,
Vivendo na mais pura apostasia,
Fujo de ti, de mim, de toda a gente
Encarcerado nesta nostalgia.

Desejo caminhar e de repente
Eu não consigo. Triste esta apatia
Que nos impele a percorrer na mente
Caminhos que nos mentem cada dia. 

Meu Deus, vem-me ajudar, quero sentir
De novo essa alegria, esse prazer
Que nos faz renascer, nos dá fulgor.

Eu quero olhar para Ti, ver-Te sorrir,
E descobrir que em cada alvorecer
Renasce em mim a chama desse Amor!


ACORDEM





Acordem!
Gritos de revolta 
Nos anais da nossa consciência…

Os jornais do dia,
Cheios de lacunas não propícias,
Enchem colunas e colunas de notícias
E como os de ontem, 
Como os de sempre,
Falam em sangue, sangue fervente,
Com títulos faustosos,
Manhosos,
Enganosos:

Matou, depois matou-se;
Estrada ensanguentada;
A mão esfacelou-se;
Família assassinada.

À mesa do café
Fala-se em desporto,
Discutem-se notícias do jornal
E neste mundo torto
O homem busca absorto
Uma alucinante 
Fraternidade universal!

Agredido o árbitro num jogo de futebol;
O bem e o mal;
Todo o homem é meu irmão;
Queriam um banco ao sol,
Passaram no hospital,
Foram dormir à prisão.

Acordem!

É necessário 
Que as palavras se cruzem nos jornais
Para que se espantem 
Todos os vampiros da terra!

É necessário
Ganhar a batalha do repouso
E começar a pensar
Cruel ou calmamente
Para que a todo o instante
O estandarte da vitória
Se eleve resoluto
Nas arenas do triunfo e da glória
Desta guerra por que luto!

É necessário
Lavar os pés a um mendigo de olhar triste,
Ancião de pouca idade,
Que não venha pedir por caridade
Esmola para matar a fome de ventura
Que a vida dura lhe trouxe
Num impávido crepúsculo
Dum dia de névoa!

É necessário alertar estóicos,
Desprezar os párias e paranóicos,
Desmesurados arcaicos
Que contagiam a nossa energia
Com os rumores absurdos
Da sua indiferença e melancolia!

É necessários convidarmos os outros
A deixar-nos concentrar
A nossa energia
Para dela desabrochar
Uma nova euforia
Neste jardim florido
Plantado à beira-mar!

É necessário
Que os homens despertem
Desse sono infantil
Para que os sonhos
Não sejam refúgios de um medo vil
Mas que seus olhares risonhos
Não se tornem medonhos,
Não sejam somente
Perfis primaveris
Dum novo mundo furibundo
E não descrente!

Acordem!
Acordem que há poemas de escarlate
Em todo o mundo,
Há tristezas de pasmar 
Em toda a gente
E pode perecer,
Num gesto imundo,
Num só segundo,
Tanto e tanto inocente!

José Sepúlveda

Albatroz


Contava a lenda que naquela praia

Havia um albatroz que esvoaçava…
E ao ver perto do mar, numa catraia,
O amor que lhe sorria, ele cantava.

E o albatroz, feliz, já não se ensaia
E voa nessa praia à desvairada
Horas sem fim e quase que desmaia
Sempre adulando a sua doce amada.

 Pobre albatroz, é triste o desencanto.
E, ao vê-lo assim, o povo, com espanto,
Olhava-o a voar, enfraquecido.

Porque algum um dia um cavaleiro errante
Roubou-lhe a sua amada… e, vacilante,
E o albatroz partiu, triste, ferido…



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terça-feira, 12 de julho de 2011

Filhos de Ninguém





'História duma criança pobre
Que vive com a mãe
E teve por pai um prisioneiro
E por padrinho um carcereiro
Que lhe chamou Liberdade'

Filhos da terra e de ninguém,
Abandonados por quem
Os ama, os quer, os tem…

Tu, filho da terra.
Tu, gerado
Das lavas de um vulcão ébrio,
Ficaste abandonado
Sem nome, sem fado!

Tédio!
Tédio para os homens sem remédio!

E foi o padre, deixai-me pasmar,
O padre da aldeia que a foi baptizar

Filhos da terra e de ninguém,
Prisioneiros revoltos
Dos cárceres soltos do além…
Tu, carcereiro odiado,
Tu, filho de ninguém,
Foste o padrinho
Do rebento abandonado
Que vive com a mãe!

A alma tua
E a tua desventura
São a esperança de felicidade
Para essa criança
Que vai sentir piedade
De gente malvada…
E tu, filho do nada,
Filho da ternura,
Apenas lhe chamaste
Liberdade!

Ó prisioneiro do além.
Que busca essa verdade
Nas celas e nas lutas,
Prisioneiro por caridade
Que foge das garras de tigres famintos
Das savanas corruptas!

O filho és tu,
Seu ser a liberdade
E tu, pai, o teu prisioneiro!

“… e o preso viu fugir-lhe a Liberdade
Nos braços da mulher do carcereiro!”

José Sepúlveda 
(Arca de Quimeras)



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Mimetismo


O seu cabelo era loiro 
Como o cabelo de oiro 
Dum milheiral em flor 


O seu rosto era rosado 
Dum rosa que aposto 
Era o da rosa mais formosa, 
A mais linda do prado 


A sua boca era rubra 
Dum rubro tão doce 
Como o da papoila mais rubra 
De onde quer que fosse 


E não há quem descubra 
De onde era ela 
E não há quem nos diga 
Que a rapariga 
Não fosse bela... 


Mas quando um dia se casou, 
Tudo mudou! 


O loiro cabelo 
Outrora brilhante 
Tornava-se escuro, 
Impuro, aberrante! 


O rosto, 
A face bela, 
Tão cheia de gosto, 
Ficava amarela! 


A boca tão rara 
E tão cheia de amor 
Ficava clara 
Sem cor, 
Sem calor 
E toda a alegria, 
A força e energia, 
Da moça fugia 
Ao vir o amor! 


Tristeza! 
Onde está sua beleza? 


Foi quando casou 
Que a bela mulher 
Voltou a nascer 
Velha, velha! 


Caprichos da natureza!


José Sepúlveda 
(Arca de Quimeras)
 

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