quarta-feira, 13 de julho de 2011

ACORDEM





Acordem!
Gritos de revolta 
Nos anais da nossa consciência…

Os jornais do dia,
Cheios de lacunas não propícias,
Enchem colunas e colunas de notícias
E como os de ontem, 
Como os de sempre,
Falam em sangue, sangue fervente,
Com títulos faustosos,
Manhosos,
Enganosos:

Matou, depois matou-se;
Estrada ensanguentada;
A mão esfacelou-se;
Família assassinada.

À mesa do café
Fala-se em desporto,
Discutem-se notícias do jornal
E neste mundo torto
O homem busca absorto
Uma alucinante 
Fraternidade universal!

Agredido o árbitro num jogo de futebol;
O bem e o mal;
Todo o homem é meu irmão;
Queriam um banco ao sol,
Passaram no hospital,
Foram dormir à prisão.

Acordem!

É necessário 
Que as palavras se cruzem nos jornais
Para que se espantem 
Todos os vampiros da terra!

É necessário
Ganhar a batalha do repouso
E começar a pensar
Cruel ou calmamente
Para que a todo o instante
O estandarte da vitória
Se eleve resoluto
Nas arenas do triunfo e da glória
Desta guerra por que luto!

É necessário
Lavar os pés a um mendigo de olhar triste,
Ancião de pouca idade,
Que não venha pedir por caridade
Esmola para matar a fome de ventura
Que a vida dura lhe trouxe
Num impávido crepúsculo
Dum dia de névoa!

É necessário alertar estóicos,
Desprezar os párias e paranóicos,
Desmesurados arcaicos
Que contagiam a nossa energia
Com os rumores absurdos
Da sua indiferença e melancolia!

É necessários convidarmos os outros
A deixar-nos concentrar
A nossa energia
Para dela desabrochar
Uma nova euforia
Neste jardim florido
Plantado à beira-mar!

É necessário
Que os homens despertem
Desse sono infantil
Para que os sonhos
Não sejam refúgios de um medo vil
Mas que seus olhares risonhos
Não se tornem medonhos,
Não sejam somente
Perfis primaveris
Dum novo mundo furibundo
E não descrente!

Acordem!
Acordem que há poemas de escarlate
Em todo o mundo,
Há tristezas de pasmar 
Em toda a gente
E pode perecer,
Num gesto imundo,
Num só segundo,
Tanto e tanto inocente!

José Sepúlveda

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