Amy Dine, Poemas



Confia Em Deus

Quando a noite da tristeza
Envolver a tua alma
Não chores a incerteza,
Não deves perder a calma

Mesmo que queiras chorar,
Olha p’ra cima e sorri,
Jesus por muito te amar
Sofreu e morreu por ti

Não te abata qualquer dor
‘Inda não foste vencida
Pois não há coisa pior
Que levar assim a vida

Se algo te molestar
Ergue teus olhos aos céus
Logo tudo há-de passar
Lembra-te: ao leme está Deus

Amy Dine
1967 Lobito
O Que é o Amor

É triste e ao mesmo tempo doce o amor!
É algo que se sente e faz sofrer,
É dor que fere, sem sequer doer,
É nosso sentimento interior

Mas esse amor se não retribuído
Irá fazer sofrer alguém que ama
E que deseja que essa mesma chama
Arda também num coração amigo.

Amor, é o companheiro que se alcança,
Mas traz desilusões, perda de esperança
E deixa em nosso ser amarga dor

Essa palavra doce e tão querida
E tantas vezes não retribuída
É simplesmente e tão-somente AMOR
Amy Dine
1967 - Lobito


Prece Para o Ano Novo

Senhor Jesus, este ano chega ao fim
E tanta coisa nele eu fiz errada!
Será que ainda tens perdão p’ra mim
Ou finalmente vou ser rejeitada?

Senhor, eu creio que me tens amor
Peço-te pois perdão por todo o mal;
Esquece os meus pecados por favor
E leva-me para o lar celestial

Um novo ano já vai começar
E meu querido Pai quero pedir
Que tua bênção, sim, me possas dar
E tua mão me impeça de cair.

Que eu, bom Deus, te tenha mais amor
Assim como ao meu próximo também,
Que eu saiba desculpar ao ofensor
E seja bem melhor, Jesus. Amen.
Amy Dine
1967 – Lobito
A Natureza

Ao contemplar um dia a natureza
Eu achei nela uma ternura infinda,
Mas vi também que toda essa beleza
Não era como outrora assim tão linda.

Ainda há belas aves muiticores
Singelas flores nos campos, tão cheirosas
E nascem os espinhos entre as flores
Murchando de tristeza as lindas rosas

Por todo o canto há dor, muita tristeza
A natureza morre dia-a-dia,
E aquilo que já foi rara beleza
Agora sofre angústia e carestia

Aqui só vemos morte, só há dor,
Nem alegria há, nem bem-estar
Os homens já não sentem esse amor
E tudo fazem somente a lutar

A minha alma então se entristeceu
Mas um raio de luz me fez lembrar
Que o bom Jesus que nessa cruz morreu
Virá um dia e tudo vai mudar

Mas quando o feliz dia despontar
E Cristo regressar dos altos céus
O nosso sofrimento irá findar
Consigo irá levar todos os seus

A morte, a dor, a guerra acabarão
E tudo então ressurgirá de novo
Os mortos lá tumba sairão
E o belo mundo será bom de novo  
Amy Dine
1967 – Lobito
À Minha Amiga Nela


Uma manhã de Outono, ao passear,
Recordo docemente a minha vida
E na memória a minha amiga querida
Que há alguns meses tive de deixar

As folhas mortas caem sobre a relva
E eu não posso esquecer jamais
Que nesse tempo a vida nesta selva
Era mais bela e as duas tão iguais

Eis pois uma canção que ainda nos une:
Eu que te amava, tu que me amavas
Eu que brincava, tu também brincavas
Sem a saudade que hoje nos reúne

A vida aparta corações leais
Bem docemente e mesmo num só dia
Mas, oh!, eu nunca esquecerei jamais
A minha querida amiga que sorria

As folhas mortas caem sobre a relva
Mas que fazer para não mais pensar?
Pois nesse tempo a vida nesta selva
Era mais bela. Como é bom amar!

E lá nos bosques, árvores desnudadas
Anseiam p’lo calor daquele verão
E erguem-se para o céu resignadas
Quando a tristeza me enche o coração

E a vida que separa quem se ama
Vem brutalmente e como um rodopio,
Que nem consigo extinguir a chama
Que a fez partir p'ra longe, ela partiu.

As folhas mortas caem sobre a relva
E penso para mim, só, nesta vida
Que um dia a vida mesmo nesta selva
Será mais bela ao ver-te, Nela querida!

Amy Dine
1968 - Collonges

Angola, Terra Querida


Angola querida que estás distante
Ó como eu te recordo com saudade
E me lembro de ti a cada instante
Como se aí estivesse em realidade

Eu oiço o teu mar de um verde cristal
Ondulando doce à brisa da tarde,
Vir espraiar-se no branco areal
Entoando uma canção de saudade

Vejo no céu de anil o sol brilhar
com raios de oiro todo em resplendor
Chamando os homens para labutar,
Mandando à terra todo o seu calor
Amy Dine
1969 - Collonges
Tristeza
Não mais ao pôr-do-sol eu te verei
Nem mais às quartas-feiras eu estarei
Como dantes, sentada junto a ti.

E nem tão pouco te ouvirei também
À noite, quando a lua se ergue além
Pois agora eu não mais estarei aí.

Contudo, vem recordar-me a saudade,
Em cada noite sem ter piedade,
Esse castelo que eu idealizei.
Mil sonhos cor-de-rosa hoje desfeitos
Desses projectos, sim, há pouco feitos
E tudo quanto amava aí deixei.

E voa assim o tempo sem parar
Fazendo a vida pois se transformar
Nesta tristeza e grande solidão.
P’ra mim a primavera já passou
O inverno, bem mais longo, já chegou
E a tristeza encheu meu coração

Amy Dine
1970 - Bongo

Deixem-me sonhar!


Deixem-me sonhar!
Eu quero divagar 
No meio de ilusões e de incertezas...
Eu quero lançar fora as tristezas
Que meu céu azul vêm toldar.

Deixem-me procurar!
Eu quero a felicidade encontrar...
Não importa se o passado foi tristonho,
Eu quero um futuro bem risonho
Que venha minha vida alegrar.

Amy Dine
1973 – V. Conde
S.O.S.

Sós! Será que estamos realmente sós?
Na Natureza podemos observar
toda a beleza da mão do Criador
e sentir em cada flor, regato, água
e até nos animais todo o seu amor!
Sós, mas sempre acompanhados
por esse Ser invisível
que pôs em nossas mentes
descobrir o impossível                    
e avançar com segurança
sabendo técnicas,
não perdendo a Esperança                          
de que mais além
há sempre algo a descobrir
se tivermos fé e coragem                             
e não quisermos desistir.
O aprender, o cair, o levantar
e sobretudo o não deixar de lutar,
existem no ser humano
desde o nascer ao morrer e fazem             
parte da sua personalidade e existência.
Mas nesta luta muitas vezes desigual     
entre Homem e Natureza
e entre cada animal,
só merece vencer quem não perder o Norte,
quem não temer a morte
e num grito de esperança S.O.S.
em Deus depositar a sua confiança.
                                                               Amy Dine
1985 – V. Conde
Gosto

Gosto do sol e do mar
E gosto de Natureza
E das noites de luar
Em toda a sua grandeza

Eu gosto de contemplar
Lá do alto das montanhas
Um rio a serpentear
Por entre fragas tamanhas

Ao ver estrelas brilhar
Se observo o firmamento
Sinto Deus a me falar
Através do pensamento

Amy Dine
2011 – V. Conde
Dine

Lá em Dine, Trás-os-Montes,
Terra de rara beleza,
Desci rios, subi montes,
Partilhei co’a natureza

Nas árvores os passarinhos
Saltitam de galho em galho
Alimentando os filhinhos…
Deu-lhes Deus esse trabalho

E nos campos, animais
Vão pastando de mansinho
E há imensos milheirais
Sempre ao longo do caminho

Corre o Tuela mais além
De águas frescas e claras
Nele trutas vão e vêm.
Estas são imagens raras

Um moinho já velhinho
Agora desactivado
Relembra-nos com carinho
As histórias de um passado.

Já no alto da colina
Contemplo tudo ao redor
Vejo a aldeia pequenina
Branquinha - que esplendor!

Grutas! Os fornos de cal,
A Igreja pequenina
E até o Museu local,
Ai, meus sonhos de menina…

Ó terra p’ra mim querida
E origem de meu nome,
Amar-te-ei toda a vida
Até que a morte me tome.

Amy Dine
2011 – V. Conde
Para ti o Meu Poema

A ti, criança da guerra
 Que perdeste pai e mãe
Num mundo só, sem ninguém
Dedico o meu poema

A ti, ó jovem soldado
Que és corajoso e forte
E tens de enfrentar a morte
Dedico o meu poema

A ti que foste emigrante
E que em terra estrangeira
Labutaste a vida inteira
Dedico o meu poema

A ti, só e abandonado,
E que estás já tão velhinho
Carente de amor, carinho
Dedico o meu poema

A vós, cansados da vida,
Da dor e da solidão,
Do fundo do coração,
Eu dedico o meu poema.

Amy Dine
2011 – V. Conde
Sonhos

Quando jovem tive sonhos,
Alimentei ideais,
Mas por falta de coragem
E p’ra não fazer sofrer
Esses que foram meus pais,
Um a um os vi morrer…
Tornaram-se irreais!

Agora com esta idade
Já pouco espero da vida,
Apenas resta a lembrança
Desses sonhos de criança
E dessa esp’rança perdida.

Amy Dine
2011 – V. Conde
Adeus, Angola

Após um curto e cansativo dia,
Naquele fim de tarde, quem diria,
Rodeada de amigos lá no cais
Deixava Angola p’ra não voltar mais.
Aguardava a hora da despedida;
Ali passara dez anos de vida.
Cresci, estudei, me diverti, amei…
Um a um os abracei e beijei.
Chegara a hora de dizer adeus,
Deixava p’ra sempre amigos meus.
Subi as escadas e da amurada
Contemplei seus rostos amargurada
Queria gravá-los na minha memória
Pois faziam parte da minha história.
Pouco a pouco surgiu no firmamento
Um lindo pôr-do-sol naquele momento
Hum hum hum, esse som rouco e profundo
Soou no ar vindo do fim do mundo.
Soltam amarras, içam a fateixa
Enquanto o navio esta terra deixa.
O Angola vai-se afastando do cais
Lentamente, cada vez mais e mais.
E lenços brancos tremulam no ar,
Então ergo minhas mãos p’ra os saudar.
A noite tropical então chegou
E com ela meu coração gelou.
P’ra os carros começam a correr
A Restinga começam a percorrer
Essa língua de terra pelo mar dentro…
Hum hum hum outra vez aquele lamento,
Grito sinistro que me faz sofrer.
Pó-pó, pó-pó… eu consigo entender…
Eram eles a dizer: - Estamos aqui.
E a brisa disse: - Gostamos de ti!
Os carros tinham os faróis ligados,
Conseguia vê-los atarefados
Seguindo o barco ansiosamente
Gritando: Até sempre, até sempre!
No fim da Restinga, subitamente,
Param e se juntam e bem lentamente
Se viram p’ró mar. P’la última vez
O navio se aproximará, talvez…
Lá estão eles! Ao contornar o pontão,
Sinto bater bem forte o coração.
Faróis a piscar num último adeus!
Assim eu recordo os amigos meus.
Meu coração ficou lá nesse cais,
Angola…, não te esquecerei jamais!

Amy Dine
2011 – V. Conde
Jesus Cristo

Fecho os olhos e volvo ao passado.
Cercado de pastores e animais,
Vejo-te bebé e em palhas deitado
Sendo Deus, homem foste entre os mortais

Aos doze anos vejo-te no templo
Surpreendendo todos os rabinos
P'ra cada um tu foste um exemplo
Igual, mas diferente dos outros meninos

E no baptismo o milagre acontece!
Ouve-se do alto a voz de Deus Pai
Vinda do céu uma pomba aparece:
“Tens minha bênção, segue em paz e vai…”

Vejo a percorrer montes e vales
Pregando a paz, o amor e o perdão
Aos doentes curavas tu os males
E sossegavas cada coração

Contemplo-Te então pregado na cruz
Braços abertos, com teu corpo exangue
Davas-nos a vida assim ó Jesus
Comprada foi com Teu precioso sangue

Desce do céu um anjo em esplendor
Do túmulo então a pedra é removida
Ouve-se no céu um alto clamor…
É Teu Pai que te traz de novo à vida

E lá no monte, numa tarde calma,
Perante os olhos dos discípulos teus
Deixaste uma promessa em cada alma:
- Voltarei e levar-vos-ei p'ra os céus.

Mas chego ao presente e abro os meus olhos
Nas lutas da vida tu estás comigo
No meio da lama e entre os escolhos
Pegas-me ao colo pois és meu amigo

E pela fé já consigo antever
Esse dia glorioso em que verei
Com anjos mil Jesus do céu descer
Agora em glória e já feito rei

Então para sempre o curso da história
Será mudado de mal para bem
De todo o passado não há memória
Vida eterna de paz o justo tem

Amy Dine
2011 – V. Conde
Ser poeta


Ser poeta é ser um louco
É falar de tudo um pouco
E nunca estar satisfeito…
É ser assim desse jeito.

P’ra ele a realidade
Não existe na verdade
Vive num mundo só seu
Ou então no de Orpheu

Diz o que lhe vai na alma
Mesmo se fere ou se acalma
Se acaso não tem razão
Navega numa ilusão

Vive no mundo dos sonhos
Do amor colhe os medronhos
Que o seduzem e embriagam
E a sua vida estragam

Em sua mente passa a dor
O sofrimento, o amor,
Paixão não correspondida
E uma vida mui sofrida

P’ra ele o tempo não passa…
Na alegria ou na desgraça
A vida é sempre poesia
Há que viver cada dia
Amy Dine
2011 – V. Conde
Vale a Pena Viver

Olha p’rá vida em suas coisas belas,
Não te demores só entre os espinhos;
Repara que no céu brilham estrelas,
Nas árvores rouxinóis fazem seus ninhos.

Enxuga o pranto que te vai nos olhos
E vê que o sol de novo irá raiar
E mesmo entre a dor e os escolhos
Confia sempre, a sorte há-de mudar.

Nos prados cada dia surgem flores
E quando o vento sopra e a chuva cai
A natureza solta seus odores.

Na vida tudo pode acontecer:
No imenso mar a onda vem e vai
Que a vida é bela, como é bom viver!

Amy Dine
2011 – V. Conde
Saudade


Oh, como eu sinto saudade
Dos meus tempos de menina
Nos quais eu não tinha "idade",
Era sempre pequenina

Mas o tempo foi passando,
Muitas ilusões trazendo
E lá me fui transformando
Na pessoa que estão vendo

E, com o passar dos anos,
Desilusões, desenganos,
Também foram meu quinhão

Mas, lado a lado com Deus,
Confio-lhe anseios meus
E Ele estende-me a mão
Amy Dine
2011 – V. Conde
Póvoa de Varzim

Mar, rochas, areia
Paus de barracas erguidos no ar
E o vento norte que teima em soprar

Sol, nevoeiro, ronca
Ondas que trepam por cima do cais
E em estrondo rebentam nos areais

Barcos, lua, farol
Ao raiar o dia um a um regressam
E lá no cais as mulheres se apressam

Peixe, canastras, pregões
- Quem quer comprar a sardinha vivinha?
   Olha a marmota que está tão fresquinha!

Cafés, guarda-sóis, bicicletas
E o Passeio Alegre cheio de gente
Andando lesta p’ra trás e p’rá frente

Lojas, lojas, lojas
E na Junqueira pela rua fora
Um mar de gente passa a toda a hora

Luz, cor, alegria
É esta a Póvoa que eu aqui canto
É desta Póvoa que eu gosto tanto.
Amy Dine
2011 – V. Conde


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