Intimidades




MILAGRE

Por fim lá se encontraram. De repente,
Trocaram um olhar com simpatia
E avançando nessa fantasia
Os dois se entrelaçaram  ternamente.

E desde aí, seu rumo foi diferente.
Passaram  a viver nessa alegria
E quando algum ficava mais carente
O outro logo, logo o socorria.

Depois, foi só seguir um sonho lindo
E nessa caminhada construindo
Seu grande amor, razão da sua fé.

Passado pouco tempo, eis senão quando
Se lançam para a vida com desmando,
Caindo num bercinho de bebé!



Emilia 

Andavas, doce Emília, por vielas
Bradando em tristes ais de sangue e dor.
Teus pés se arrastavam  num langor
Exangue e dormitavas co’as estrelas.

Aonde estão as tuas faces belas,
E os teus olhinhos cheios de dulçor?
E aquelas mãos tão cheias de fulgor
Que nem pintor retrata, onde estão elas?

Tão jovem quando envolta em  ilusão
Um filho te nasceu. E desde então
Sozinha te encontraste. Estranho amor!

Ó triste sina, vida pervertida
Que te roubou da vida a própria vida
E fez de ti um trapo sem valor!

João

Armando


Vi-te nascer dum gesto apaixonado
Num grande frenesim e aventura.
Depois, ficaste só, abandonado
Por pai e mãe, num gesto de loucura!

Assim, qual pária, triste, desprezado,
Buscaste alguém, carente de ternura.
Foi quando, num amor desinteressado,
De novo renasceste em madre pura!

E homem te fizeste, e em luta acesa
Criaste um lar tão cheio de riqueza
Aonde abunda amor, felicidade!

Graças ao Pai, venceste nesta vida,
Fizeste-nos felizes. Na partida
Deixaste amor e réstias de saudade!

Maninhas


Enquanto aqui viveu a sua luta
E conheceu mulher após mulher,
Meu pai, com sapiência absoluta,
Gerou extensa prole, com saber.

A Nanda, a Ema, a Tila e a Saluca
Nasceram todas antes de eu nascer.
Chegava a minha vez, coisa maluca,
Ter que aturar assim tanta mulher!

E veio a Olga, a Paula se seguia.
E não ficou por aí que, mais tardia,
Nasceu a Sílvia em grande confusão.

Viveu três casamentos a sorrir
E dessa prole que delas viu surgir
Eu sou tão só seu único varão!

Geninha


Quanta saudade, mãe, quanta saudade
Do teu olhar perene de paixão,
Dum coração imenso, da amizade
Da tua mão pousada em minha mão,

Preciso reencontrar todo o encanto
Do teu sereno olhar, dessa alegria
Que muito cedo, para nosso espanto,
Numa manhã de Março se esvaía

Regressa, mãe, eu quero o teu carinho,
Vem, diz-me no ouvido, bem baixinho
Que um dia vais voltar, ó mãe querida!

E com todo o saber do coração
Vem, diz-me, por favor, porque razão
Eu vivo em teu viver por toda a vida!

Amie


A minha vida é feita de incerteza
Mas quando a vejo fria, vã, desnuda,
Inclino-me p’ra ti com singeleza
E a ti, Anita, eu vou pedir ajuda

Ah! Como é bom conhecer
No rosto de uma mulher
A verdade que seduz

Maria! Como se fosse
Aquela que nos deu luz!
Relembra o nome da doce
Imaculada que trouxe
A salvação em Jesus

Paixão


Setembro, fim da tarde, mais um dia
Se esvaiu tão triste em meu lidar
Apenas mais um dia em que seguia
Num barco desvairado a navegar

Agora, a sempre grata companhia
Que no silêncio dum singelo olhar
Tentava transmitir o que sentia
Ao soletrar, sozinha, o verbo amar.

Surpresa! De repente, vi na estrada
Dourada cabeleira que brilhava
No ondular mais lindo que encontrei

Meu coração saltava de alegria!
Olhamos e sorrimos à porfia,
Depois, não sei porquê, me apaixonei!

Papoula


Era a flor silvestre
Quem crescia
Na planície agreste
Da minha fantasia…

Mas, um dia,
Uma rosa formosa
Nascia, vaidosa,
Lado a lado
Com a papoila
Mais tola do prado

E a planície infinda
Ficou mais linda!

E na planície tola
Não mais nasceu papoila!

P.S.


Essa rosa
Formosa
Não é como as demais!

Tem espinhos
Especiais,
Refinados,
Não letais
E sem dor,

Neutralizados
Por gestos delicados
E por carinhos matinais
Cheios de amor…

… aos braçados!


Monte dos Burgos, fim de mais um dia.
Regresso a casa ainda sem saber
Que nesse dia tinha que escolher
Entre Milucha e a doce Ana Maria

Difícil o dilema, quem diria!
Milucha eu conhecia; era mulher
Sensível, delicada, lindo ser.
Ana Maria? Enigma, fantasia!

Entre paredes, louco de euforia,
Meu coração gritava em extasia
Num misto de alegria e de pudor.

Por muito que apelasse a vã razão,
Era mais forte a voz do coração
E então me apaixonei por ti, amor!

Menina loira


Essa menina loira que me chama
P'ra junto a si, Senhor, é verdadeira.
É pura, para mim é a primeira
Que conheci que sabe porque te ama

A sua mão estende sobre a lama
Onde nadamos. Vida traiçoeira
A que vivemos, sós, buscando fama
No mal que praticamos! Que Deus queira

Que seja esta a verdade. Se assim for,
Um dia vai ser ela o meu amor.
E a todos levaremos essa luz

Que essa menina loira me quis dar,
Em tempos de tristeza e de pesar,
Quando buscava, em trevas, seu Jesus.

Este poema lindo


Este poema lindo que te escrevo
Pela manhã em suave alvorecer
É para nós um íntimo segredo
Que a vida nos ensina a reviver.

Amar a noite, o dia, o triste, o ledo,
E tudo o que na vida dá prazer
Às vezes nos assusta e mete medo
Mas são lições que temos que aprender.

Amar é para nós percurso antigo
Que não está isento de perigo,
E aonde a cada paço se tropeça.

Mas nós sabemos que esta vida é assim:
Olhamos eu p’ra ti e tu p’ra mim
E, num sorriso, tudo recomeça!

Luz


Eu que te amei, amor, desde o momento
Em que te vi, não sei, não posso crer
Que todo este vigor, este poder
Por Cristo me foi dado em sentimento

Vieste-me dar luz ao pensamento
Em trevas e fizeste-me entender
Mil vícios que tinha em meu viver.
Sofreste, amor, mas nem um só lamento

Soltaste! Como é lindo este meu fado,
Contigo a caminhar, sempre a meu lado,
Num corpo e alma, sós! Eis o esplendor

Do Deus todo-poderoso! Por ti, fiz-me
Seu filho dedicado. Anda lá, diz-me
Se posso mais viver sem teu amor! 

Grande amor


Anita, vejo em ti essa menina
De longa cabeleira que algum dia
Eu encontrei na estrada, peregrina
E com subtil olhar p’ra mim sorria.

Cruzamos nossas vidas. Nossa sina
Cresceu de braço dado e a harmonia
É para nós candeia que ilumina,
O nosso mundo pleno de alegria.

Não deixes que resquícios do passado
Se venham interpor ao nosso lado
E tragam até nós tristeza ou dor.

Eu sei que mesmo o vale mais profundo
Não há-de por em trevas este mundo
Que construímos. Grande é nosso amor!


Quisera


Há duas coisas que, paciente, espero
Da minha deusa em forma de mulher.
Primeira: estar bem certo que eu a quero;
Segunda: estar bem certo que me quer.

Depois, ver-me embalar num peito aberto
Nada encoberto e, sem me aperceber,
Ver-me abraçado em frenesim liberto,
Corpo com corpo, ardendo sem arder.

E ver sonho ancestral concretizar-se:
Dois seres num só ser, prontos a dar-se
E um fruto desse puro amor nascer.

Ver de seu ventre, em choros aflitos,
Surgir loiro rebento, em altos gritos,
Nessa aventura louca de viver!

Meus Filhos

De tantas, tantas graças recebidas
E bênçãos sem ter fim já recebidas,
Deste-nos, Deus, três filhos diferentes
E tão iguais, razão das nossas vidas.

Olha o Luís, tão sóbrio, tão amável,
Seus olhos irradiam alegria.
Sorrindo sempre, com falar afável
Vai espalhando amor e simpatia!

Olha o Miguel, sincero, artista nato,
Amante do desporto e do retrato,
Pacato em seu viver, giesta em flor

Por fim, o Pedro, filho dedicado
Que insiste viver sempre ao nosso lado,
Fazendo deste lar um lar de amor

Pedala, Miguel

Dedicado ao meu filho Miguel 
quando da doença grave por que passou.
(Poema reescrito a partir de uma mensagem
encontrada na Internet)

No princípio,
eu olhava para Jesus com outro olhar.
Via um Jesus vigilante,
Juiz que não esquecia
as coisas erradas que eu fazia

Sempre, a cada instante. 


Ele estava ali, com Seu poder,
Senhor e Fonte do saber…
 Reconhecia a Sua imagem
mas não  tinha coragem
de O conhecer
Mais tarde,
quando passei a conhecê-Lo,
pareceu-me que a vida
era como um passeio de bicicleta
e percebi que Jesus seguia atrás,
de forma discreta,
segurando-me e ajudando-me
a pedalar…
E tudo ficou mais belo!

Não me lembro quando foi
que  Ele mudou para o meu lugar,
só sei que desde esse dia
a vida ficou cheia de alegria…
E queria cantar!
Conforme o tempo
voava como o vento
e agora me tornara paciente,
tudo ficou mais compreensível,
todo o momento feliz e atraente…
Quando eu estava no comando,
sabia onde queria chegar
e quase sempre encontrava
um caminho exequível.
 Mas, incrível, não ficava satisfeito,
Tudo aquilo era previsível… mas imperfeito…

Depois que Jesus assumiu a liderança,
Cresceu-me a confiança.
Dia após dia descobria
que Ele conhecia atalhos maravilhosos.
Passei a subir montanhas,
transpor terrenos pedregosos,
trajectos vertiginosos!
Tudo o que tinha que fazer
era segurar-me confiante
E correr, correr, sempre adiante…
 Ele dirigia,
E eu, contente, sorria!
E conquanto
Às vezes me parecesse uma loucura
Ele apenas dizia:
“Segura, Miguel, segura!"


Quando me sentia
ansioso e preocupado,
perguntava-Lhe:
“Senhor, vamos por esse lado?”
Ele corria,
e trocávamos olhares à porfia…
Pouco a pouco foi crescendo a confiança.
E quando às vezes
me surgia a desesperança,
Ele virava-se para trás,
agarrava fortemente a minha mão…
e zás! 
Na sua doce e mansa fala,
dizia:  “Pedala, Miguel, pedala!”

 Levou-me até pessoas que não conhecia;
deu-me o dom do serviço e da alegria…
Depois, olhava para mim… e sorria.
Muitas das pessoas
que trouxe até mim
apoiaram-me em momentos difíceis
e me ajudaram a superar obstáculos 
e a prosseguir assim na minha caminhada.
…E, juntos, derrubámos toda a barricada!

E dia após dia
passei a pedalar
na Sua companhia…

Um dia, olhando para mim,
olhos nos olhos,
disse-me:
“Entrega os dons que trazes na mochila
aos amigos e vizinhos da montanha ou da vila.
Às tuas costas são abrolhos, ou espinhos,
é supérflua… e pesada!,
Não vale nada!”
E, sorrindo,
comecei a distribui-los
por todos que encontrava.
E pude descobrir com alegria
que quanto mais dava,
mais recebia!
E o meu fardo
era mais suave e leve
em cada dia…
Ao princípio, não compreendia
e vivia indeciso e com temor.
Mas o Senhor conhecia bem
os "segredos" da minha bicicleta,
sabia como incliná-la em curvas arrojadas,
como elevá-la para transpor
obstáculos e valadas,
lugares pedregosos, charcos lamacentos,
proteger-nos de frios e de ventos…
… e no meio de tantas redundâncias,
desmembrar caminhos e atalhos, 
encurtar distâncias...
…e trabalhos!
Aprendi a ouvi-Lo cantar ao pedalar
nos caminhos mais incertos,
aprendi a apreciar a planície infinda,
Estendida em espaços abertos,
E cada dia mais linda…, mais linda!
senti o soprar da fresca brisa
que nos desliza pela fronte,
ao subir a serra, ao descer o monte…
E eu sorria ao desfrutar tanta alegria!
Agora,
quando sinto que não posso ir mais além,
olho em Seu olhar sereno
que num aceno me sorri
Como quem diz:  - Estou aqui…
e com  fraternal carinho,
murmura baixinho:
“Pedala, Miguel, pedala, filhinho!..." 


Senhor 

Quando chegaste em dia de alegria
A minha casa onde há paz e amor,
Eu partilhei o pão de cada dia
Contigo, à minha mesa, meu Senhor.

Mas, de repente, toda essa harmonia
Num ápice ruiu e ao meu redor
O bem e o mal brincaram à porfia
E tudo se transforma em grande dor.

E em oração me achego a ti, meu Deus;
Pedidos mil se elevam para os céus
De amigos sem ter fim, num só clamor!

E, em Tua meiga voz, disseste: “Amigos,
Ó!, vinde a mim, cansados e oprimidos
E eu vos livrarei de toda a dor!”


O Toque de Sua Mão

Terrível, quão terrível essa tarde
Em que a doença todo me envolvia,
A febre me devora e sem alarde,
Sozinho, envolto em dor, me contorcia.

Fugi p’ró quarto e ali, fechado à chave,
Prostrei-me sobre a cama em agonia,
Que nas entranhas todo o corpo arde
E é grande o sofrimento nesse dia.

Mas, de repente, nessa solidão,
Alguém tocou suave em minha mão
E uma imensa calma então senti.

Não sei o que passei nesse momento,
Só sei que, com Jesus no pensamento,
Na mais serena paz adormeci!


Hugo

Huguito, já cheguei, mas que saudade
Eu tinha de te ver, meu amorzinho,
Vem dar-me aquele abraço, apertadinho,
Que me enche de calor, felicidade!

O tempo que passei lá na cidade
Aonde vivo com tua avozinha
Parecia não correr e, adivinha,
Parece que foi uma eternidade

Trouxe p’ra ti o carro policial,
A pista, o dos bombeiros, tal e qual!
Mas estas prendas têm pouco valor.

Por isso, trouxe-te uma sem igual,
Como presente muito especial
Eu quero aqui deixar-te o meu amor!

Joana 

Joana, como é lindo o teu olhar
Olhando o meu, assim, tão penetrante!
Olho p’ra ti e logo, num instante,
Eu fico enternecido, sem falar!

O teu sorriso doce, de encantar,
Traz aos meus olhos brilho radiante.
E ouço a tua voz a cada instante
A me dizer: Avô, vamos brincar?

Vem-me abraçar-me, amor, e vem trazer
A força e alegria de viver
A este meu cansado coração

E vem dizer-me com o teu carinho:
Eu quero-te abraçar, meu avozinho,
Só quero o teu amor, tua afeição!

Martim 

Agora que acabaste de nascer,
Montado em teu corcel de fantasia,
Eu sinto regressar essa harmonia
Que se esvaía sem qualquer prazer

É quando estás olhando p’ra meu ser
Com teu sorriso pleno de alegria
Que quero reviver em cada dia
Essa alegria imensa de viver

Assim, ao ver-te, eu sinto renascer
Momentos já vividos com prazer
Em tempo já no tempo dissipado

Contigo nasce a luz de um novo dia!
Por isso, quero a tua companhia
E caminhar contigo lado a lado

Esperança

Tenho esperança
Que um dia voltes, Esperança,
Espero com confiança
A tua volta, titia.
Tenho esperança
Que quando voltares, Esperança,
Vamos formar a aliança
Da amizade e da alegria.
Tenho esperança
De ouvir tua voz, Esperança,
Sempre tão doce, tão mansa,
Cheia de ternura, amor.
Tenho esperança
Que, quando voltares, Esperança,
Vai ressurgir a bonança
E findar a nossa dor.
Esperança, dá-me a esperança
De mais tarde reviver
(Viverei, se Deus quiser!)
Os meus tempos de criança


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