O Canto do Albatroz



Perfil


Nasci  no meio da rua
Lá na aldeia de Delães
A parteira corre e sua
Assistindo a duas mães.

E àquele médico triste
Que a morte me prometia
O meu coração resiste
E a todos surpreendia.

E nesta louca corrida
Pelas agruras da vida,
Minha vida se perfila.

E por mais que agora faça,
Sou poveirinho de raça
Com dormitório na Vila.


Na minha aldeia havia um lindo rio
De cristalinas águas a jorrar
E quer fizesse sol, fizesse frio,
A gente ia até lá, p’ra se banhar.

E era para nós um desafio
Passar pela turbina a trabalhar,
Atravessar  o dique corredio
E ir na outra margem passear.

Seguíamos cantando por ali fora
Aqui colhendo zimbro, ali amora,
E desfrutando os sons da natureza.

E ao regressar a casa, p’la noitinha,
O nosso coração não se continha
Por termos desfrutado tal beleza!

São sete as portas para em ali entrar,
Septimpublica, seu nome em latim
Linda cidade, vem-na visitar
Que em toda a Espanha não há outra assim.

Vem ver o Duratõn que serpenteia
Pelas montanhas longas, sem ter fim,
Entoando em sua doce melopeia
A música redia que há em mim

Vem ver no céu os grifos a gritar
Voando em desvario sem parar,
Envoltos numa orgia que não finda!

Olhando esta beleza de encantar,
Eu fico estarrecido e a pensar:
Sepúlveda cidade, como és linda!


Septimpública

 O Duraton desliza das montanhas
E serpenteia à volta dos sucalcos;
Parece que rebenta p’las entranhas,
Subindo, regredindo, sempre aos saltos.

Na compressão das margens algo estranhas,
Vislumbro nos seus pontos mais revoltos
Memórias de combates e façanhas,
Vitórias mais vitórias…, pontos altos!.

Fernan Gonzalez, conde de Sevilha;
A sua argente espada ainda brilha
No cimo das muralhas sós, abortas…

Sepúlveda, cidade maravilha!
Tomara ser soldado que perfilha
Manter inabaláveis tuas portas!


Junto ao Mar



Sinto à distância
A fragância do mar
Ondas, gemidos,
Perdidos no ar
Jovens, poetas,
Vilões a sonhar
Lá no mar,
Lá no mar,
Lá no mar

Dois namorados
Carícias, dulçor,
Trocam recados,
Promissas de amor
Voam gaivotas,
Trinados sem fim,
A cantar,
A cantar
Para mim


Voam gaivotas
Trinados sem  fim
Ninfas devotas
Que cantam pra mim
Paz e alegria,
Magia, dulçor
É o amor
É o amir
É o amor


Vem ver o mar, que lindo, a marulhar,
Sempre a brincar, perene, entre os rochedos.
Será que estão os dois a namorar?
Quem sabe se trocando alguns segredos!

Às vezes nos parece querer cantar
Ali, quase escondido, entre os penedos.
Será? Só sei que é bom ficar a olhar
Lançando p’ra bem longe os nossos medos.

Sereno, em suas ondas, numa orgia
E num bailado cheio de magia,
Que faz transparecer felicidade,

E as nossas mágoas ficam para trás
Que toda essa energia nos compraz,
Nos dá prazer e paz, serenidade!

Timão de Bruma

Com meu timão de bruma, num abraço,
Navego para além da fantasia
E, entre a espuma, busco o meu espaço
No imenso azul do mar, na maresia.

E quando, vacilante de cansaço,
Me sinto a mergulhar na água fria,
Anseio caminhar mas nada faço
Para voltar à praia vã, redia.

Ao longe, o nevoeiro, a densa bruma,
O cheio a maresia, um mar de espuma,
O sonho desse amor, do seu carinho…

E assim, nesse cenário, intenso, frio,
No qual, não sei porquê, me refugio,
Procuro reencontrar o meu caminho.

Albatroz

Contava a lenda que naquela praia
Havia um albatroz que esvoaçava…
E ao ver perto do mar, numa catraia,
O amor que lhe sorria, ele cantava.

E o albatroz, feliz, já não se ensaia
E voa nessa praia à desvairada
Horas sem fim e quase que desmaia
Sempre adulando a sua doce amada.

 Pobre albatroz, é triste o desencanto.
E, ao vê-lo assim, o povo, com espanto,
Olhava-o a voar, enfraquecido.

Porque algum um dia um cavaleiro errante
Roubou-lhe a sua amada… e, vacilante,
E o albatroz partiu, triste, ferido…

Navegando

Navego nesse mar imenso, infindo,
Ouvindo a doce brisa, o marulhar…
E nessa melopeia vou seguindo
P’ra onde a maresia me levar

No céu, as densas nuvens se esvaindo
Em lágrimas que tombam sobre o mar…
E as forças lentamente vão fugindo,
E sinto-me perdido, a navegar…

Algumas aves voam lá no céu
Sob esse oculto sol, agora breu,
Amedrontadas por me ver penar

E nesta nostalgia peço a Deus
Que venha perdoar pecados meus
Que a vida insiste em não me perdoar…


Póvoa de Varzim

A Noroeste da Península se situa
A mais formosa praia lusitana,
A imensa terra nostra que nos chama,
A Póvoa, terra minha, terra tua

És berço de poetas, de escritores,
De heróis que em terra e mar por ti lutaram
E com coragem nobre acarinharam
Em vida tantos, tantos pescadores

Vem ver o Eça, o Maio, o Calafate,
O Sérgio, o Lagoa e quantos mais
Que morrem exaltando-a até ao fim

Vem ver as lindas colchas de escarlate
Durante as procissões, pelos beirais
Cantando à linda Póvoa de Varzim


Gaivotas numa praia sem ninguém.
Olhando o Mar, carícia que se eleva
Ao sol sem brilho que ilumina a treva
E agora se escondeu lá no além

Espuma negra, esguia, num vaivém
Sereno e tenebroso que nos cega.
E, frio, peço à pena que descreva
A triste solidão que me sustém

Não choro porque é triste ver chorar,
Não rio porque é triste ver farsar,
Não falo porque é triste ver sofrer

Apenas olho o mar, seu ondular,
Na esperança de nas ondas desvendar
Segredos que me ensinem a viver

A Ver o Mar

O mar se agita em ondas alterosas
Batendo a penedia com fragor;
Depois, em ondas simples, carinhosas
Se estende pela areia com dulçor.

Ó mar imenso, de marés perigosas,
Se vires lá na faina o pescador
Protege-o das tormentas fulgorosas
E fá-lo regressar ao lar de amor!

É bom olhar p’ra ti, sereno, calmo,
Ouvir-te murmurar um lindo salmo
Naquele sussurrar eterno, infindo.

E quando sinto ao longe a maresia
Eu corro para ti com alegria
E fico aqui sentado, porque é lindo!

Pela manhã, se um sonho me desperta,
Eu venho ver o lindo alvorecer
Olhar os campos, a planície aberta
E ouvir os sons do mar, sempre a mexer.

O sol já brilha lá no horizonte
Entrando alegre aqui pela janela;
Deixou-se aparecer de trás do monte
P’rá noite se esconder na praia bela!

É bom vir visitá-lo. Esta alegria
Renova em nós a força, a energia
Para enfrentar o dia que se segue,

Porque esses dias tristes, de agonia,
Que o mundo nos oferece em cada dia
Não são p'ra nós. Diabo que os carregue!


Na Praia

Caminho junto à praia, como é lindo!
As ondas correm loucas para mim
E, de repente,  fogem se esvaindo
E voltam, num vaivém que não tem fim.

 O sol baixando, quase se extinguindo
Num colorido rubro-carmesim,
Enfeita-se de  estrias, descaindo
Nas águas desse mar tão belo, assim!

Gaivotas esvoaçam sem parar
Bailando estonteadas junto ao mar
Num frenesim imenso de ternura

 E o mar, correspondendo ao seu anseio,
Estende-se na praia num gorjeio
E entoa um hino pleno de candura!

Molhe Sul

O mar sereno envolve a penedia
Lançando sobre si seus tristes ais
Agride-a e a seguir a acaricia
Num fraternal abraço: mar e cais.

Lá longe, aquela chama, noite e dia
Subindo para espaços siderais.
Os operários da refinaria
Parece que nos gritam: Como vais?

Traineiras mais traineiras a passar
E os camaradas com braços no ar
Volvendo ao mar, tão cheios de esperança.

E peço a Deus aqui em oração
Que toda a faina corra de feição
E os deixe regressar em segurança

Cego do Maio

Nasceu num berço humilde e carinhoso
Esse poveiro cheio de valor.
O mar foi para si seu grande gozo,
Alfobre de ternura e grande dor.

E em cada dia um gesto corajoso
Se sucedia. E ia sem temor
Roubar ao mar imenso e revoltoso
A vida de um e outro pescador.

Tão cheio dessa vida abnegada
Foi receber um dia a Torre e Espada
Das mãos do Rei. E com simplicidade

Pegou numa saqueta com beijinhos
E disse, rodeado de carinhos:
- São para os seus cachopos, Majestade!



Lobos-do-mar

Lobos-do-mar, heróis da nossa terra
Cujas façanhas queremos recordar.
E quantas vidas sem querer enterra
Nas águas mais profundas, esse mar.

Tantos segredos no seu seio encerra,
Histórias de coragem de pasmar
Que salvar vidas nessa intensa guerra
Não é coisa comum, p’ra desprezar.

São muitos os heróis! Que esta memória
De como se escreveu a nossa história
Nos faça agora e sempre perceber

Que é nessas lutas que se atinge a glória
E p’ra sentir o gosto da vitória
Nós temos que lutar até vencer!




Praia do peixe. Ali vive escondido
Um ritual que nos faz avivar
Lembranças desse tempo decorrido
Que ainda vale a pena recordar.

Susana, no seu tom desinibido,
Falava à multidão, sempre a gritar,
Vendendo, entre pregões e alarido,
Os peixes mais variados deste mar.

- São dez, doze, catorze, dezasseis,
  Vá lá, passa p’ra cá vinte mil reis
  Que o peixe é do fresquinho, vem cá ver!

E neste turbilhão de fantasia
Aquele mar de gente rodopia
Numa alegria imensa de viver!

Veronese 

Os gritos entoavam  lá na praia
Perante tal cenário. E, impotente,
No Veronese há gente que desmaia
Ao pressentir a morte à sua frente.

Chegaram os poveiros. Já se ensaia
O modo de abordar aquela gente.
E o comandante impede que se saia
Ao ver nova tragédia tão presente.

Então, Lagoa chama os seus amigos
Que sem ligar a apelos ou perigos
Se lançam lá no mar, à sua sorte.

E envoltos em coragem, destemor,
Alcançam num instante esse vapor
Salvando toda a gente. Gesta forte!

O Palacete

Como era majestosa essa mansão
Que se escondia atrás do arvoredo!
Quem sabe se escondia uma paixão,
Quem sabe se ocultava algum segredo?

Sabemos sim que certa ocasião,
De lá desapareceu e que bem cedo
Surgiram construções em profusão
E esta confusão nos mete medo.

Quem foi o seu carrasco que algum dia
Nos quis privar de toda essa harmonia
No meio de influências infelizes?

Que pena! Assim se foi a linda torre!
Aqui fica um pedido que me ocorre:
Não deixem destruir nossas raízes!

Passeio Alegre

Passeio alegre. A multidão se agita
Num louco frenesim, sem mais parar.
O povo se atropela e se espevita
Em longas caminhadas junto ao mar.

E toda aquela gente nos incita
A passear felizes, sem parar.
E nem sequer se fala, quase grita
Que é grande o alarido ali no ar.

Em noites de luar, o mar sereno
Nos chama e nos convida num aceno
A desfrutar momentos de prazer.

Que bom ouvir o mar, seu marulhar
E no silêncio e paz reencontrar
Essa alegria imensa de viver!

Diana-Bar

Diana Bar, recanto de poetas
Que ali procuram paz p’ra se inspirar.
É certo, também há muitos patetas
Que querem dar nas vistas, enganar.

E quando em horas mortas, mais discretas,
Nós vamos até ali p’ra ver o mar,
Alguns tentam mostrar suas canetas
Como quem diz: - Estou a versejar

Diana Bar aonde no passado
Se via José Régio acompanhado
De dois grandes amigos, sem ter pressa.

E às vezes, de passagem, formalmente,
Sentados ali mesmo à sua frente,
Trocávamos dois dedos de conversa.

Pescaria

Um dia fui pescar no alto mar
Com meus amigos, gente sã, madura.
Passavam longo tempo a caminhar
Mas queriam ir pescar, nova aventura.

O Tone Ramos ia a comandar
Aquele barco na manhã escura,
Ia pensando, ao vê-los a pescar,
Que a faina é rude e cheia de amargura.

Os mais afoitos foram para a proa
Pescar e ver pescar que a vida é boa
Quando nos corre bem, nos acarinha
.
Mas um incauto de repente enjoa,
E corre, agoniado, lá da proa
Aos gritos: Vou morrer, minha mãezinha!

Pescador

Lá vai, baú na mão, o pescador
Partir p’rá rude faina de pescar.
Não sabe que tormentos vai passar
Naquele mar de esperança, lar de amor!

Mas não vai só que a paz do Salvador
O acompanha sempre em seu lidar.
E o mar, se é causa de uma imensa dor,
Não deixa de ser parte do seu lar.

Vai confiante porque a valentia
É para si a eterna companhia
Com que partilha a fé de coração.

Que a luta a se travar em cada dia
Lhe traz muitos motivos de alegria,
Que o mar é paz, suor, amor e pão

Relógio

Quem passa junto à praia, na esplanada
E eleva para o alto o seu olhar
Vai ver naquela torre iluminada
A hora que o relógio teima em dar.

Se o tempo para uns não vale nada,
É para outros coisa basilar
Que o tempo nesta nossa caminhada
Passa a correr p’ra nunca mais voltar.

Aprende esta lição: se o vires passar
Não pares, continua a caminhar
Mas vai descontraído, sem ter pressa.

Não vale a pena andar sempre a correr
Se na verdade o tempo é p’ra viver
E em cada instante a vida recomeça

Sargaceiras

Que maravilha. Ali, num mar de areia
Sargaços mais sargaços a nadar.
Trouxera-os pela noite a maré cheia
E o cheiro a maresia anda no ar.

As sargaceiras vão de minissaia
Colhendo, recolhendo sem cansaço
E, aos pares, cada uma não se ensaia
E entra sem temor entre o sargaço.

E cada espécie tem o seu matiz
Lilás, verde, castanho! Que feliz
Me sinto ao ver-me envolto neste enleio.

E em cada dia a cena se repete
Que a vida dura a isso as compromete
E elas vão em frente, sem receio.

Prelúdios de abril

No Patronato há grande agitação
Pois muita gente quer ouvir cantar
Poemas e canções de intervenção
Que malta mais afoita nos quer dar.

Mas de repente, meio à confusão,
Alguém nos grita: - Há bufos a chegar,
Chamai o nosso abade p’ró portão
 E cantem o que é moda popular!

E o padre assim lhes diz, sem ter temor:
- Olá, querem entrar? Façam favor,
Estamos num convívio familiar!

E os bufos, apanhados de surpresa,
Disseram: - Fiquem, bem, ó, concerteza,
Nós íamos apenas a passar!

Paixões de verão

Cheguei à praia e vi-a ali, sentada,
Jogando ao prego com suas amigas.
Olhei p’ra si, minha alma apaixonada
Ali ficou, olhando as raparigas.

Depois, sorriu p’ra mim e duma alçada
Se colocou de pé sem mais cantigas.
E num aceno, enquanto caminhava,
Seguimos junto ao mar, por entre intrigas.

De mão na mão, subimos a um penedo
E, entrelaçados no mais terno abraço,
Eros me visitou num turbilhão.

Guardando para mim esse segredo,
Lancei-me para a água - que embaraço!
E a mente se acalmou. Paixões de verão!

Linha da Póvoa

Amigo, já se vê no horizonte
O Metro em seus carris a passear,
Como é bonito ver Casal do Monte
Com arcos ancestrais ali no ar!

Ó, como é lindo atravessar a ponte
E ver no rio crianças a brincar,
Passar no Corgo e ver daquela fonte
As águas cristalinas a jorrar.

Repara agora, o Espaço Natureza
Com todo o seu verdor, sua beleza
Criando em nós momentos de alegria!

Amigo, vale a pena viajar
Da Póvoa ao Porto, vem, vem mergulhar,
Nesta aventura plena de magia!



Quem foi que deu o nome a nossa terra.
Lhe chamou sua e a teve por presente?
Mistério! É um segredo que se encerra
Envolto na penumbra mais silente.

Quem foi o conde que entre paz e guerra
Se deslocou p’ra cá com sua gente
E disse: Aqui quem manda e quem desterra
Sou eu! Que decisão eloquente!

Vímara Perez, primórdio da nação?
O Conde D. Henrique, sim ou não?
Quem quer que seja, é-nos indiferente.

D. Mendo, conhecido por Sousão,
Talvez queira dizer-nos com razão
Que os condes somos nós, a nossa gente

Santa Clara

Do alto do Mosteiro eu olho o rio
Que corre suavemente para o mar.
E vejo ali, por entre o casario
Gaivotas que esvoaçam sem parar.

E sinto a brisa num sopro vadio
Que teima vir p’ra me acariciar.
E sem me aperceber do desafio
Que a brisa me lançou, eu vou cantar!

Ao fim do dia, nessa tarde amena,
A bruma vai descendo em paz, serena,
Enquanto sorrateiro, o sol se esconde.

E nesse enleio, estendo um longo abraço
A meu amigo, Ventura do Paço,
E sento-me a cantar Vila do Conde!

Socorro

Na zona ribeirinha, uma capela
Vive altaneira num pequeno morro.
A sua construção, estranha e bela,
Com todo o pormenor eu a percorro.

E quando subo ali, pela viela,
Ou trepo a escadaria quase a zorro
Eu fico estarrecido junto dela
Parece que gritando por socorro!

Reparem bem na cor, está pintada
De branco. Lá no cimo, arredondada
De linhas tão suaves, linda Igreja!

E peço ao Deus do céu na minha prece
Que todo o peregrino que aparece
Ali possa louvá-Lo, Que assim seja!

Largo dos Artistas

Porque ficais na rua aparvalhados,
Meio sentados, só para dar vistas?
Deixai passar transeuntes apressados,
Desimpedi o Largo dos Artistas!

Olhai para trás com ar mais disfarçado
E vê-de que umas jovens bem bonitas,
Se querem colocar ao vosso lado
Para tirar retratos mais catitas.

Depois, passai ao lado, ao Bompastor
Ou mesmo ao Nacional e com pudor
Juntai-vos num lugar mais recatado.

Aí trocais dois dedos de conversa
De forma improvisada, bem diversa,
Depois, ide falar para outro lado!

Caravela

Que linda caravela a que se vê
Naqueles estaleiros atracada.
Memória antiga, erguida pela fé
Que ali se lê de forma apaixonada.

O timoneiro firme, está de pé
Olhando a sua vela desfraldada
Ao vento mais agreste, que a maré
Não há-de com certeza fazer nada.

Ó tempo glorioso! O marinheiro
Lançava-se no mar, aventureiro,
Com rasgos de coragem, destemor!

Intrépido, com grande valentia
De terra em terra, tudo percorria
Levando ao mundo a cruz do Salvador!

Pelourinho

Olhai o pelourinho tão velhinho
Que o povo construiu nesse lugar!
Aviva-nos memórias do caminho
Que os tribunais seguiam para julgar.

O hábito cruel, até mesquinho,
Com laivos de justiça popular,
Levava-os a prender no pelourinho
Os presos que queriam castigar.

E dia e noite os pobres lá ficavam
À chuva, ao sol, ao frio e os que passavam
Angustiados, cheios de sofrer,

Seguiam para suplícios mais profanos,
Repletos de perfídias e de enganos
Que agora desejamos esquecer.

Rendilheiras

Abençoadas mãos que com labor
E com peculiar dedicação
Transformam fios simples sem valor
Em lindas rendas cheias de paixão.

Vão dedilhando os bilros com fervor,
Com grande paciência e devoção.
Depois, como que em gestos de louvor,
Vão descobrindo as formas que lhe dão.

E cada rendilheira de per si
Transmite essa alegria que há em si
A todos que quiserem aprender.

E os rendilhados cheios de harmonia
Se multiplicam como por magia
Levando ao mundo inteiro o seu saber

Paradoxos

Entre façanhas ditosas
Onde a vaidade se esconde,
As coisas mais curiosas
Não há sonda que as sonde.

Ouvi, almas caridosas:
Contaram-me não sei onde
Que há três coisas bem charmosas
Que teve Vila do Conde

Ouve incêndio nos bombeiros,
Ouve um assalto à polícia,
Não era suficiente?

Da obra das mães, museiros,
Com perícia, sem malícia!
Foi solteira a presidente!

Educação

Já toda a gente sabe que um país
Não pode caminhar p’ra nenhum  lado
Se não tiver as bases de raiz
E o povo mão for culto e educado.

E porque toda a gente o sabe e diz,
Um professor se encontra ali ao lado
Do centro do saber, num chafariz,
Passando o testemunho, esperançado.

A frase popular diz que o saber
Não ocupa lugar . Quem o tiver
O mundo enfrentará com confiança.

E esta mensagem simples, actual,
Aponta-nos caminhos que afinal
Nos hão-de conduzir com segurança.

Régio

Régio!
Como era bom
Saber exprimir por palavras
O que me vai no coração!

Não posso, não sei…
Sei somente
Que de repente
Caí docemente
Na ternura dos seus braços
E senti-me embalar
Num sonho sem par,
Num amor profundo
E sem cansaços!

Deixei-me enlevar
E entrar num mundo de fantasia
Que sentia
Me iria transtornar…
Poderia ser, poderia?
Sim, era a realidade
Dum mundo de maravilhas escondidas,
Belo, belo!

Que bom sentir num só momento
Ter vivido tanto tempo,
Um momento de verdade,
De plena felicidade.

Como traduzir
Momentos sem tradução,
Como sorrir
Sem motivo ou confissão
Num hino à sedução!

Busco, busco por toda a parte,
Por toda a gente
E não encontro momento
Com tanta arte, diferente! eloquente!

Como um louco,
Agarro-o com toda a garra
Para que esse sentimento
Não se transforme num momento
Num sentimento de farra.

Régio,
O mundo não pode ser
O que às vezes nos parece,
Ninguém merece!

Há um céu de estrelas belas
Que precisamos descobrir
A sorrir, sempre a sorrir…
E cantar no meio delas!
E nós a evitá-lo,
A recusá-lo,
A escorraçá-lo,
A censurá-lo,
Porquê?
Diz-me porquê!
Será que ninguém vê
Aquilo que está na frente?
Como é diferente!
Diferente!
Há, Régio!
Como era bom ser como tu,
Poder falar com liberdade,
Viver intensamente essa verdade
De ser, de querer,
De descobrir…
Mesmo sofrendo
A sorrir…

Mas não sei
Não consigo encontrar palavras
Para exprimir em momentos,
Alegrias ou tormentos,
Coisas bravas,
Sentimentos ou palavras
Que nos saiam das entranhas
Lamentos, ilusões estranhas,
Coisas fúteis ou finitas
Que gritas
Ao abrires o coração!

Régio,
Mostra-me o teu pensamento,
Mostra-me o pensar fecundo
Que te vai no coração momento a momento,
Deixa-mo ver, meu irmão!

Ensina-me palavras
Que transmitam
A nobreza
Dum amor duro,
Mas puro,
Cheio de pureza
E sem paralelo
Que nos persegue
E nos chama!
Como poder vê-lo,
Como distingui-lo,
Como poder
Sem remorso
Descobri-lo
Entre esta lama?

Quantas vezes
Tentamos ocultar
Com amargor
Segredos nossos
Que teremos pudor
De contar seja a quem for!
E nos magoam até aos ossos!

Ajuda-me a despertar
Essa gente indiferente,
Perdida,
Que vegeta na vida
E não sente, não sente!
“Vem por aqui,
Dizem-me alguns com olhos doces…”
Olhos doces!
Mentira!
Vivem num mundo de mentira
Que em verdade
Lhes tira a vida
E a vontade!
E nos gritam que
Seria bom que os seguíssemos,
De rastos, na vida!
Maldade!
Olhemos para si, com olhos lassos,
Deixemos-lhes canseiras
E cansaços
E fiquemos nós aqui,
De rastos,
Aqui, entrelaçados,
Os dois, em dois abraços!


Descendo calmo o Tejo, algo nos chama
Lá longe, junto aos céus, brilhando ao sol;
Envolto numa bruma pura, insana,
As torres do castelo de Almourol.

E lembra-nos a gesta alentejana
Que com grande coragem, valentia,
Em tempos alcançara grande fama
Livrando-a do inimigo que surgia.

Õ povo egrégio, cheio de paixão,
Que com destreza ergueu a sua mão,
E agora nos incita e que nos diz:

Lembrai-vos desses tempos de glória
Que há muito descreveram nossa história,
Nós vamos  reerguer esse país

Bruçó

Aquela aldeia oculta entre as montanhas
Que fica para além do Mogadouro
Preserva coisas lindas e façanhas
Que são p’ra nós autêntico tesouro.

Tentando penetrar suas entranhas
Buscando histórias, coroas de louro,
Nós encontramos coisas tão estranhas
Que na diferença são pepitas de ouro.

Bruçó, aldeia antiga, nobre gente,
Na sua intimidade diferente
E genuína em forma e em saber.

Com coisas simples conta sua história
De gente sà, perene em sua glória,
Tão cheia de alegria de viver! 

3 comentários:

Unknown disse...

Caro amigo, lindos e melódicos são teus escritos. Apreciei demais ler-te. Um abraço carinhoso.

Solange Figueiredo disse...

Amigo e parceiro, surpresa em conhecer teus escritos e ler tão lindos sonetos... Perfeitos! Bjus da tua sempre amiga e fã, SOL

Ilma Borem disse...

Sua poesia me deixa embevecida. Gostei muito!